quinta-feira, 3 de março de 2011

Por fazer...

 "O que fazemos durante as horas de trabalho determina o que temos; o que fazemos nas horas de lazer determina o que somos." (Charles Schulz)

20:50- Ela olha o relógio pela quinta vez nos últimos vinte minutos. "O tempo não passa", pensa ela. A essa hora, a maior parte das pessoas já foi para casa. No escritório, só restam ela e alguns funcionários da limpeza.

A pilha de papéis sobre sua mesa continua enorme. Apesar de fazer hora extra, o trabalho parece não dar resultado. A todo instante surgem mais contratos a serem analisados. Ela já não aguenta mais. Sente uma dor de cabeça irritante. Levanta de sua cadeira e pega o "remedinho milagroso" para todas as situações.

"Ah, quer saber? Vou aproveitar e arrumar a sala." Tenta organizar as pastas, os blocos e as canetas. Naturalmente, não consegue. Mas deixa assim mesmo, por fazer...

21:00- Tranca sua sala e bate o ponto. "Mais um dia de hora extra que chega ao fim. Agora é ir para casa e relaxar.


Enquanto espera o manobrista pegar seu carro, confere o celular. Várias chamadas não atendidas. Três delas de sua filha. "Ai, meu deus, como pude esquecer..." Tinha prometido à filha que ligaria e tentaria chegar cedo em casa. Esqueceu de avisá-la que tinha hora extra, que não seria possível.

O carro finalmente chega. Entra rapidamente. Na pressa, arranca com o veículo e quase não vê o senhor que estava à frente.

Logo ao virar a esquina, vê o que temia: tudo engarrafado. "Não, hoje não, por favor. Já estou cansada", suplica, como se adiantasse algo. Com o trânsito todo parado, resolve ligar para a filha. A chamada não completa. Tenta várias vezes. Nada. Ouve então as notícias do rádio para descontrair e ver se a dor de cabeça passa.

22: 32- Finalmente, chega em casa. Abre a porta. Tudo escuro. Larga as coisas na sala e vai até o quarto da filha. Entra delicadamente. Mas a menina já está dormindo. A babá vem ao encontro e avisa que a criança foi para cama mais tarde hoje, esperando pela chegada da mãe. Mas não aguentou o cansaço e acabou dormindo.



A mãe senta então na poltrona da casa e tira os sapatos para aliviar a tensão.  Percebe que está chorando. "Que péssima mãe eu sou. Não vi minha filha o dia inteiro, nem consegui ligar..." Percebe que não tem acompanhado como gostaria o crescimento da menina. Desde que se separou, as coisas ficaram mais difíceis. Tem que trabalhar mais para sustentar as duas e as horas de lazer entre elas são cada vez mais raras.

 De repente, sente que seu ombro está molhado. Sim, as lágrimas aumentaram...

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