segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Antologia 2019


Ler sempre foi uma das minhas grandes paixões. Mas de uns anos para cá, parecia que eu e os livros tínhamos dando um tempo na relação. Não é que eu não continuasse lendo, sempre olho o jornal impresso e me informo principalmente pelas mídias digitais. Mas abrir um livro era algo que eu não fazia com a mesma frequência de antes. Não tinha nenhuma desculpa convincente para o fato, mas foi em setembro que eu despertei: por que não voltar ao velho hábito? Comecei a me dar conta das horas em que eu perdia em frente ao computador vendo as redes sociais, assistindo a um programa qualquer na TV e o tempo gasto no deslocamento até o trabalho. Todos esses momentos podiam ser melhor aproveitados se eu estivesse fazendo algo mais produtivo como ler por exemplo. Busquei então um livro que pudesse despertar em mim o gosto pela literatura novamente. Apostei em uma tema de meu interesse para não ter erro. Como sempre li muito rápido, logo tive que comprar outro. Em um segundo momento apostei em um autor que admirava e comprei várias obras. 

Ao todo, li 19 livros desde setembro. Não gostei de todos, é claro. Mas percebi que conforme ia lendo, meu gosto ia se aperfeiçoando. Sabia exatamente o que me interessava e o que era melhor deixar de lado. Romances históricos e ficções baseadas em fatos reais dominam a minha lista de favoritos. E quando eu me surpreendia positivamente pela obra de um autor, sempre acabava comprando outro livro dele.

Ao longo dessas quase duas dezenas de livros em 2019, percebi que além do tema, eu também me interessava pelas diferentes formas de narrativa. Lá atrás, na época do colégio, a professora ensinava as dicas e os macetes para fazer uma boa redação. "Uma história tem que ter começo, meio e fim". "Nada de misturar os tempos verbais,  as pessoas da fala". Ficávamos engessados a um modelo padrão. Até entendo. Éramos muito jovens e precisávamos aprender a escrever direito. Mas os limites não há limites para a literatura. Uma boa história pode ser contada de várias formas. Em "Pátria" (de Fernando Aramburu), por exemplo, a voz do personagem se mistura ao do próprio narrador em um mesmo parágrafo. Por falar em dar voz, a vencedora do Nobel de 2015, Svetlana Alexijevitch, entrevistou por mais de dez anos diferentes vítimas do acidente nuclear de Tchernóbil. O resultado é um livro, quase uma reportagem, com depoimentos impactantes.

Mas ler também pode ser uma forma de aprender. E esse era um dos meus grandes objetivos: aprender algo com cada livro. Em "O homem que amava os cachorros", Leonardo Padura reconstrói os últimos anos da vida de Leon Trótski e a trajetória de Ramón Mercader, seu assassino, em uma obra que ensina mais do que muita aula de história por aí. O também cubano Armando Lucas Correa mistura ficção e realidade para contar a história do transatlântico Saint Louis que embarcou com quase mil refugiados judeus que fugiam da Alemanha nazista. Destaque também para as narrativas envolventes de autores brasileiros contemporâneos como Paulo Stucchi e Luize Valente ou a consagrada Rachel de Queiroz em "Memorial de Maria Moura". Escrito quando tinha 82 anos, seu último romance gira em torno de três eixos que acabam se entrelaçando. Um deles conta a história de uma personagem marcante, a cangaceira nordestina que dá nome à obra.

A seguir, os livros que li em 2019. Se quiser, compartilhe algo que gostou também. 

A intérprete (Annete Hess)
A garota alemã (Armando Lucas Correa)
A filha esquecida (Armando Lucas Correa)
A volta para casa (Bernard Schlink)
A pátria (Fernando Aramburu)
O tatuador de Auschwitz (Heather Morris)
O menino do alto da montanha (John Boyne)
Tormento (John Boyne)
Fique onde está e então corra (John Boyne)
A rede de Alice (Kate Quinn)
O homem que amava os cachorros (Leonardo Padura)
A morte de Ivan Ilítch (Liev Tolstói)
Uma praça em Antuérpia (Luize Valente)
O segredo do oratório (Luize Valente)
Sonata em Auschwitz (Luize Valente)
A filha do Reich (Paulo Stucchi)
Memorial de Maria Moura (Rachel de Queiroz)
Vozes de Tchernóbil (Svetlana Alexijevitch)
Um lugar para todos (Thity Umrigar)

Imagem: Jevgeni Salihhov