O Botafogo é metáfora. Da vida. Porque ela tem é feita de altos e baixos. Muitos mais fossa do que planície e planaltos. Qual a graça de vencer sempre? Qual a graça da vida perfeita do instagram? Eu prefiro valorizar as poucas vitórias.
O Botafogo é um retrato do Brasil. “O comitê de gestão”. Anos
de má gestão, brigas políticas. Falta de profissionalismo, interesses próprios.
O Botafogo é hipérbole. “Nunca vi um time tão ruim. O pior técnico.
A pior campanha de um campeão. 25 contratações”.
O Botafogo é exceção. “Há coisas que só acontecem com o
Botafogo”: o técnico estrangeiro contratado que nunca assumiu. Substituído às pressas
por um que também ficou doente.
O Botafogo é paradoxo. “Cansei desse time, não vejo mais”. Dois
dias depois: “Quanto foi o jogo das meninas?”
O Botafogo é tempo verbal. “Esse pênalti não existiria há
dois anos e não existirão daqui a um”.
O Botafogo é casamento desfeito. Honda e Kalou.
O Botafogo é Pato Donald. O reclamão, o injustiçado. “Põe na conta do árbitro. Não foi nada.”
O Botafogo é superstição. “A gente perdeu porque jogou de
branco. Onde já se viu um meião dessa cor?”
O Botafogo é conformismo. “Já sei que vai perder mais uma.
Que vai ser rebaixado. Nem vai doer tanto assim”. Nenhum jogador chorou após a queda.
O Botafogo é o facho de luz. No fundo do túnel escuro, a
esperança surge. Em um garoto de 16 anos.
O Botafogo é orgulho. Um dia após a queda, um mar de camisas
pretas e brancas na rua.
O que é aguentar menos de um ano para quem esperou mais de
21?
“Reconhece a queda e não desanima. Levanta, sacode a
poeira e dá a volta por cima”
Imagem: André Durão/ge