domingo, 7 de fevereiro de 2021

Crônica de um rebaixamento anunciado



O Botafogo é metáfora. Da vida. Porque ela tem é feita de altos e baixos. Muitos mais fossa do que planície e planaltos. Qual a graça de vencer sempre? Qual a graça da vida perfeita do instagram? Eu prefiro valorizar as poucas vitórias.

O Botafogo é um retrato do Brasil. “O comitê de gestão”. Anos de má gestão, brigas políticas. Falta de profissionalismo, interesses próprios.

O Botafogo é hipérbole. “Nunca vi um time tão ruim. O pior técnico. A pior campanha de um campeão. 25 contratações”.

O Botafogo é exceção. “Há coisas que só acontecem com o Botafogo”: o técnico estrangeiro contratado que nunca assumiu. Substituído às pressas por um que também ficou doente.

O Botafogo é paradoxo. “Cansei desse time, não vejo mais”. Dois dias depois: “Quanto foi o jogo das meninas?”

O Botafogo é tempo verbal. “Esse pênalti não existiria há dois anos e não existirão daqui a um”.

O Botafogo é casamento desfeito. Honda e Kalou. 

O Botafogo é Pato Donald. O reclamão, o injustiçado. “Põe na conta do árbitro. Não foi nada.”

O Botafogo é superstição. “A gente perdeu porque jogou de branco. Onde já se viu um meião dessa cor?”

O Botafogo é conformismo. “Já sei que vai perder mais uma. Que vai ser rebaixado. Nem vai doer tanto assim”. Nenhum jogador chorou após a queda. 

O Botafogo é o facho de luz. No fundo do túnel escuro, a esperança surge. Em um garoto de 16 anos.

O Botafogo é orgulho. Um dia após a queda, um mar de camisas pretas e brancas na rua.

O que é aguentar menos de um ano para quem esperou mais de 21?

“Reconhece a queda e não desanima. Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”

Imagem: André Durão/ge