Tudo começou quando o Adryelson foi expulso. E a vida do botafoguense virou uma montanha-russa de emoções. Eu trabalho à noite em uma redação de esportes e estava fazendo esse jogo no dia. No intervalo, teve gente me desejando parabéns pelo título. E naquela altura fazia sentido. Eu separava os lances mais importantes para o programa em que trabalho. E a cada gol do Palmeiras, ficava mais silenciosa. Terminei muda. Quando saiu o quarto, eu queria enterrar minha cabeça num buraco e nunca mais sair. Eu tinha vontade de chorar, vomitar, uma explosão de sentimentos. Pensei: "vou fazer as tarjas do jogo e pedir para ir embora. Não tenho mais condições de ficar aqui." Ao mesmo tempo, achava que sair antes era um atestado de fraqueza. Não sabia separar o profissional do pessoal? Não sei como aguentei até o fim daquele programa. Voltei silenciosa, abatida e segurando o choro até em casa. Até hoje quando mostram imagens desse jogo, eu viro o rosto para não ver.
Foram muitas noites acordando de madrugada e chorando. Escondendo as emoções no trabalho até desabar em casa. Voltando de uma das idas ao Nilton Santos, uma amiga minha perguntou porque a gente sofria tanto: "Eu com 27 anos estou chorando por esse time!" Eu falei: "Fique tranquila, eu estou com 31 e choro quase todos os dias".
No final, nem os rivais zoavam mais a gente. Eles viam o nosso sofrimento e respeitavam.
Na última rodada eu comprei o ingresso e nem fui. Tinha medo da TV captar o meu sofrimento no estádio.
A culpa era da camisa branca. Da camisa da patrocinadora. Do show de luzes. Da concessionária de energia do Rio de Janeiro. Da música do Segovinha. Da música do Manequinho. Do Cristiano Ronaldo. Do Bruno Lage. Do Lúcio Flávio. Do Tiago Nunes. Do pênalti perdido pelo Tiquinho. Dos gritos de "é campeão" para o remador. Da piscadinha do Marlon Freitas.
Sangramos demais. Choramos para cachorro. Mas esse ano não morremos. Sujeitos de sorte?
Imagem: Arquivo pessoal