terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Telefone sem fio

Final do dia, chuva apertando e ele dá aquela corridinha básica para alcançar o ônibus, que está quase saindo do ponto. Segura a bolsa com firmeza e torce para o sapato que está folgado não sair do pé. A porta fecha, ele sente o impacto dela batendo nas suas costas, mas consegue entrar.

Molhado com a chuva que começava a cair, ele logo percebe a baixa temperatura no ônibus. "Isso não vai fazer bem para a minha tosse", pensa ele. Mas, deixa para lá.  Tudo o que ele quer naquele momento é descansar depois de um dia tão desgastante como aquele.

Logo ele percebe aquele único lugar vazio, "especial", esperando por ele. Não hesita em atropelar todo mundo no corredor para garantir seu assento.

"Enfim, relaxado". Agora, é só tirar o nó da gravata, fechar os olhos e descansar até chegar em casa.

Mas um barulho estranho começa a incomodá-lo. "Será que deu algum problema no ônibus?", mas a hipótese é logo descartada. É (apenas) o toque discretíssimo da moça que está ao seu lado:

-OI, AMIGA, TUDO BEM? Estava mesmo precisando conversar com você. (...) Quem, eu e o Carlinhos? Você não sabe? Aquele safado chegou de madrugada...


Algumas lágrimas começam a cair na moça ao lado.

-MAS VAMOS MUDAR DE ASSUNTO? Sabe a Aninha, irmã do Roberto? Menina...

A conversa se estende, cada vez entrando em mais detalhes. Logo, todo o ônibus já conhece toda aquele turma citada no telefone, como se fossem íntimos.

Mas ninguém consegue pará-la. Todos olham torto, mas ela não se toca. Continua gritando no celular.

Finalmente e depois de muita buzina no ouvido, ele chega em casa. A mãe preparou um jantar especial e ela quer saber como foi o dia do filho.

Ele responde monossilabicamente. A mãe torna a insistir: "Mas nada aconteceu? Nem uma fofoca?

"Comigo, não. Mas se você quiser saber sobre a Aninha, o Carlinhos e o Roberto..."

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