quinta-feira, 1 de março de 2012

Demasiadamente humano

Na última quinta-feira (dia  23 de fevereiro), Botafogo e Fluminense se enfrentaram pela semifinal da Taça Guanabara, decidindo quem faria a final da competição com o Vasco, já classificado. Terminados os noventa minutos  e o empate confirmado, a decisão foi para os pênaltis. E é aí que começa minha história...


Não escondo de ninguém minha admiração pelo Loco Abreu, assunto esse que inspirou o texto "13". Era ele o escolhido para a última cobrança, que poderia ser (e foi) decisiva. Do outro lado, Diego Cavalieri, o mesmo goleiro que no estadual passado defendera uma "cavadinha". Desta vez, Loco preferiu não usar sua marca registrada. Bateu fraco e no canto. Bateu mal e a bola terminou nas mãos do goleiro tricolor. Resultado: o Botafogo estava eliminado da competição.

Talvez só o verdadeiro torcedor alvinegro entenda o que quero dizer. E desde já peço desculpas àqueles que não são e continuam lendo esse texto. Sim, porque aquele dia foi marcante para mim.  Descobri que nossos ídolos também falham e estão muito longe daquela imagem mítica de super-heróis, imbatíveis, que estão acima do bem e do mal. É como descobrir que Papai Noel e coelhinho da Páscoa não existem mais. Algo tão óbvio para qualquer criança, mas marcante.

De repente, me vi sem saber como proceder. O que faço com todos os meus objetos? Camisas personalizadas, boneco, pôster e figurinha autografada? Jogo tudo para escanteio? Justo eu que tantas vezes exibi com orgulho a camisa celeste alvinegra pelas ruas, com direito até a faixa no cabelo. Eu que perguntava em outro países da América Latina pelo jogador. Eu que fiz com que todos os meus colegas, até os que não ligam para futebol, soubessem que era o Loco Abreu, de tanto comentar.

Naquela noite, demorei a dormir e digerir a situação. Optei por passar longe das coberturas esportivas nos dias seguintes. É uma das medidas que adoto quando fico chateada com o futebol. Prefiro não pensar na situação, fingir que não existiu.


Depois, bem mais tarde, pensei em escrever sobre o assunto. Escrever alivia as dores e angústias. Quando se escreve, ficamos mais leves, nos transformamos. Chega até a ser engraçado. E foi pensando nesse texto que me toquei da insignificância daquele pênalti perdido. "Futebolisticamente" falando, ídolos de grandes torcidas, como Marcelinho Carioca, Zico e Edmundo também já falharam nas cobranças na marca da cal. E nem por isso deixaram de ser queridos. Sim, porque todos nós erramos. Seja na vida ou em um mero jogo. E ao errar, o jogador de futebol, o artista, o ídolo,  o trabalhador, o pai, o filho,  mostram que são humanos. Demasiadamente humanos.

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