quinta-feira, 18 de agosto de 2011

No púlpito

"A necessidade obrigatória de falar e o embaraço de nada ter para falar são duas coisas capazes de tornar ridículo ainda mesmo o maior homem" (Voltaire)

A capacidade de se expressar oralmente ("o falar bem") é uma habilidade perseguida há muito tempo. Na Grécia antiga, os sofistas já tinham consciência disso e ministravam aulas de retóricas para os jovens. Naquela época, saber se expressar bem era um requisito fundamental para participar das assembleias e dos debates públicos. No entanto, alguns, como Sócrates, criticavam esse ensino. Para esse filósofo, os sofistas "floreavam" e nada diziam. Era um discuso vazio, que visava apenas convencer o outro por meio da persuasão.



A sociedade sempre sentiu necessidade de se expressar, de se comunicar com o outro. Antigamente, era comum termos uma pessoa mais velha (o narrador) que contava histórias e, com elas, disseminava as tradições e as crenças de um povo. Contudo, essa prática foi desaparecendo com o passar dos tempos. Walter Benjamin chegou a falar sobre a morte do narrador. Segundo esse teórico, "a arte de narrar está em vias de extinção. São cada vez mais raras as pessoas que sabem narrar devidamente. Quando se pede num grupo que alguém narre alguma coisa, o embaraço se generaliza".

Embora esse texto de Benjamin e o exemplo dos sofistas sejam antigos, ainda é possível encontrar algumas semelhanças desses com a nossa realidade. Acusados de falar, falar e nada dizer, os sofistas podem ser comparados com nossos políticos. Quantos governantes se utilizam de construções mais complexas, palavras eruditas e no fundo fazem um discurso vazio?



Quanto ao exemplo de Benjamin, podemos ver hoje o embaraço que falar causa em algumas pessoas. Não me refiro aos tímidos, pois acredito ser esse um caso diferente. Refiro-me a grande parte de nossa população que é incapaz de conseguir expressar com clareza sua opinião. Um ótimo exemplo são os jogadores de futebol. É impressionante a dificuldade deles para responder uma simples pergunta. Dado esse problema, muitos acabam por recorrer aos bordões "com certeza" e "vamos fazer o nosso melhor para conseguir os três pontos" mesmo que a pergunta não tenha nada a ver.



Acredito que a dificuldade de falar está diretamente relacionada à (falta) de leitura. Uma pessoa que não lê encontra problemas ao tentar construir uma simples frase e escrever um texto. E recursos como falar demais sem nada dizer e não responder ao que foi perguntado são apenas estratégias encontradas para abafar uma verdade: nosso povo não lê.

Um comentário:

  1. Excelente artigo sobre um assunto que definitivamente deveria ser mais considerado e tomado medidas para resolvê-lo.

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