quarta-feira, 11 de abril de 2012

O jornalista e o escritor

Em uma confeitaria na esquina de uma rua do centro, dois amigos de longa data haviam combinado de se encontrar. O mais velho já estava no local, sentado confortavelmente em um dos sofás. Tomava um chá e observava calmamente os pingos da chuva que caía lá fora, embaçando o vidro do salão do 2° andar. Seu colega só chegaria mais tarde, depois da hora combinada.


O atrasado chegou ofegante. Distraído, sequer tivera o cuidado de limpar os pés no tapete de entrada. Foi entrando direto, esbarrando na mobília e nas pessoas. Pediu desculpas ao colega pelo atraso e tomou um café. Tinha acabado de sair do trabalho, estava cansado, exausto, mas tinha de se manter acordado, com energia.

Examinando o cardápio, um teve que colocar o óculos para enxergar. O outro preferiu forçar a vista, semicerrando os olhos. O mais velho queria saber de tudo: detalhes dos ingredientes dos pratos, os acompanhamentos... Queria ouvir uma boa história.

Depois de escolherem seus pratos, os amigos começavam a "resenha". Falavam sobre as famílias, os projetos e a rotina. O mais jovem comentava sobre sua mais recente série de reportagens. O outro também tinha planos. Queria escrever mais um livro. O tema ainda não estava definido. "Talvez um romance de ficção..."

O mais velho também se lembrou de algo. Não que fosse uma novidade o que tinha para contar já sabia até há algum tempo. Mas "era tão raro os dois conseguirem se encontrar assim que não queria deixar passar isso em branco". Antes, contudo, "precisava preparar o terreno." 

(10 minutos depois)

 - Mas, como assim, porque você não comentou isso antes? Ligava para mim, me mandava um e-mail, sei lá. Por que você demorou tanto tempo para contar? Por que não disse logo que eu cheguei?

O mais velho apenas sorriu.

Era só mais uma conversa entre um imortal escritor e um jornalista efêmero.

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