quinta-feira, 16 de junho de 2011

Estalar de dedos

A inspiração para essa crônica veio após assistir o documentário Nelson Freire (2003), de João Moreira Salles. Para quem não conhece, recomendo.



"Dai-me o melhor piano de Europa, mas com um auditório que não quer ou não sente comigo o que executo, e perderei todo o gosto pela execução" (Mozart)

Desde pequeno, já se notava que ele não era uma simples criança. Tinha um talento fora do comum para a música. Ainda novo, ganhou seu primeiro piano e começou a frequentar as aulas com uma senhora francesa.

Não se sabe ao certo quem descobriu o seu talento. Fato é que, crescendo em meio a uma família de artistas,  logo se interessou pelo assunto. Passou toda sua infância tocando, treinando em um canto da sala. Inúmeras partituras foram "consumidas" nesse tempo. A cada dia que se passava, sua exigência crescia. Queria tocar ainda melhor.



A infância passou, assim como a adolescência. Mas ele não conseguia largar seu piano. Era como um companheiro, um refúgio seguro. Com o seu piano, ele podia desabafar e descarregar seus momentos de tensão. Bastava tocar nas teclas que em pouco tempo a música vinha e o acalmava.

Logo ele se tornou um pianista famoso. Fez concertos pelo mundo todo e conquistou uma legião de fãs. Contudo, ainda sentia um certo incômodo em sua vida. Toda vez que se apresentava para um público muito grande, sentia-se inseguro. Um certo mal-estar o consumia.

Mesmo com toda a fama, sentia-se vazio. Dedicava tanto tempo a profissão que não tinha tempo para mais nada. Sobravam fãs, mas faltavam amigos.


Passaram-se quarenta anos e sua vida continuava a mesma, sempre ao lado de seu piano. Quem o visse de longe, em seu novo apartamento ou em um ensaio, veria um sujeito quieto, tímido e solitário. Mas para ele seu piano bastava. Era seu verdadeiro amigo.

6 comentários:

  1. Apenas posso imaginar o que se passava na mente e no coração de um mestre na sua arte como Gilberto Freire. Imerso em um universo de partituras e melodias à parte, a qual nenhum de nós têm de fato pleno acesso, ele transcrevia em música algo que em palavras não encontraria sentido. Parabéns pelo post!

    ResponderExcluir
  2. Que lindoooooo, eu acredito mesmo que existam pessoas que sejam assim.. Que tenham alguma coisa que para elas seja tudo, e que apenas isso baste ;D

    ResponderExcluir
  3. "Mas ele não conseguia largar seu piano. Era como um companheiro, um refúgio seguro. Com o seu piano, ele podia desabafar e descarregar seus momentos de tensão. Bastava tocar nas teclas que em pouco tempo a música vinha e o acalmava." Muito verdade! Muito muito muito bom! Gostei muito do texto :)

    ResponderExcluir
  4. Por um momento pensei que você estivesse falando do Schroeder, mas quando você disse que 40 anos haviam se passado e ele não tinha amigos, percebi que era outra pessoa. Afinal, o Schroeder nunca envelheceu e sempre teve o bom e velho Charlie Brown como amigo...

    ResponderExcluir
  5. "Well the music is your special friend
    Dance on fire as it intends
    Music is your only friend
    Until the end
    Until the end
    Until the end!"

    James Douglas Morrison

    ResponderExcluir
  6. Faço aulas de Piano faz um tempo. Ler o post dá um certo arrependimento dos dias em que faltei pra ir nadar, rs. Agora, sério, existe de verdade essa ligação com instrumentos músicais, principalmente um como o Piano.

    ResponderExcluir