Quatro dias sem notícias. Tim Lopes saiu da sede da TV Globo no Jardim Botânico para gravar uma matéria em um baile funk na Vila Cruzeiro no dia 2 de junho e não voltou mais. A morte, no entanto, só foi confirmada no dia 5 quando a polícia prendeu dois bandidos de uma quadrilha que presenciara a morte do jornalista.
“A morte do Tim foi algo muito traumático. Já existiam outros casos (de jornalistas mortos durante o trabalho), mas nenhum deles era tão famoso”, lembra Marcelo Moreira, então chefe de reportagem de Tim Lopes e um dos primeiros a receber a notícia.
Marcelo Moreira esteve no auditório da CPM (Central de Produções Multimídias) da UFRJ no último sábado (dia 17) conversando com um grupo de 30 alunos sobre sua experiência profissional e sua atuação em organizações que investem e trabalham para a segurança de repórteres em todo o mundo.
A morte brutal de um colega durante o exercício da profissão acendeu em Marcelo um sinal amarelo. Um grupo de jornalistas começou a discutir os rumos da profissão em uma lista na internet e em encontros pelo Brasil. Em uma dessas reuniões, foi criada em dezembro de 2002, em São Paulo, a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo).
Um dos fundadores da associação e atual presidente, Marcelo explica a atuação da Abraji. “Não somos um sindicato nem produzimos reportagens. Estamos unidos em torno de objetivos comuns: fazer um bom jornalismo e garantir técnicas melhores de investigação”.
Atualmente, Marcelo também é um dos membros do quadro executivo do Insi (International News Safety Institute), organização fundada em 2003 que realiza treinamentos para repórteres que atuam em áreas de risco ou em cidades violentas.
O primeiro treinamento do instituto no Brasil foi realizado no ano de 2006 com cerca de 100 jornalistas, 50 em São Paulo e 50 no Rio de Janeiro. “Nunca o Insi tinha treinado tantos jornalistas de uma só vez”, conta Marcelo. A demanda pelo curso em São Paulo cresceu, principalmente, depois que o repórter Guilherme Portanova foi sequestrado por integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) enquanto lanchava.
Desde então, outros dois cursos foram ministrados, um em 2010 e outro dois anos depois. No último, 12 repórteres tiveram aulas para que, no futuro, se tornem treinadores e não seja mais necessário importar a força de trabalho estrangeira.
Em sua página na web, o Insi mantém atualizado um ranking com a lista de jornalistas mortos enquanto trabalhavam. Em 2013, o Brasil ocupa a 6ª colocação na lista com três vítimas fatais . “A situação no Brasil é ruim. Síria, Egito, Somália, Índia e Paquistão têm mais jornalistas mortos, mas estão em guerra civil”, explica Marcelo.
A realidade das mortes no Brasil, no entanto, é bem diferente da de Tim Lopes. “O caso dele foge do perfil do jornalista que é assassinado em nosso país. Todos os bandidos foram presos e condenados”. Marcelo lembra ainda que, na maior parte dos casos, os repórteres assassinados trabalham em cidades do interior, em veículos menores. “Os crimes não ganham espaço na mídia e a investigação não é feita como nas grandes cidades”, lamenta Moreira.
Como editor chefe do RJTV 2ª edição, Marcelo Moreira também está preocupado com as agressões que os colegas de profissão vêm sofrendo durante a cobertura dos protestos e admite que muitos repórteres têm medo de cobrir os eventos. A preocupação é tamanha que a emissora já cogita a hipótese de não cobrir as manifestações. “Não estamos mais mandando repórteres”, admite.
Marcelo ressalta que o objetivo da emissora é sempre informar de maneira correta, mas vê obstáculos nas atitudes agressivas de alguns manifestantes. “Se a gente parar de cobrir como vai ser? A informação vai ser dada por terceiros e a sociedade acaba sendo prejudicada”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário